segunda-feira, 18 de agosto de 2014

MAIS MÉDICOS: HISTÓRIAS DE UM ANO DE ÊXITO

Mais Médicos: histórias de um ano de êxitoAlexandre Padilha, então ministro da Saúde, participa da aula inaugural do módulo de acolhimento e avaliação dos médicos cubanos, do Programa Mais Médicos (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil) 



Por Pedro Alexandre Sanches, repórter especial.
O programa federal Mais Médicos comemora seu primeiro aniversário com números exuberantes: já são 14,4 mil profissionais atuando em 3,7 mil municípios e beneficiando um universo de 50 milhões de brasileiros. Implementado em 8 de julho de 2013 pelo governo Dilma Rousseff, sob a condução do paulista Alexandre Padilha, então ministro da Saúde, o programa tem trazido transformações profundas inclusive ao estado mais rico do país.
Em um ano, os municípios de São Paulo foram os que mais solicitaram e mais recebram médicos: são 2.187 profissionais atuando em 345 municípios e atendendo uma população de 7,5 milhões de paulistas. Um dos efeitos da aproximação entre cidadãos e médicos foi uma redução de 70% na necessidade de encaminhamento para hospitais no estado.
Ao deixar o cargo de ministro, em 30 de janeiro deste ano, para se candidatar a governador de São Paulo pelo PT, Padilha passou a percorrer o estado natal e a testemunhar ao vivo em seu estado a revolução que ajudou a mover e que nem sempre tem sido documentada pela mídia tradicional. Entre os mais de cem municípios visitados desde então, são raros os que não têm histórias relacionadas ao Mais Médicos para contar.
O Ministério da Saúde nos perguntou de quantos médicos nós precisávamos. O departamento de saúde solicitou cinco médicos, e fomos contemplados com cinco médicos, Pedro Ferreira Dias Filho (prefeito de Cananéia). 
Caso exemplar aconteceu em Cananeia, no litoral sul do estado. Padilha andava pelo centro da cidade quando foi abordado por um vereador e pastor evangélico que por anos havia sido motorista de ambulância do município e felicitava o ex-ministro pelo programa implementado.  “Antes do Mais Médicos, ele tinha que dirigir 70 quilômetros até uma comunidade rural para buscar uma pessoa que precisava de atendimento”, lembra o ex-ministro. Hoje, há médicos trabalhando diretamente na região rural e em comunidades periféricas da cidade.
O prefeito de Cananeia, Pedro Ferreira Dias Filho (PV), também citou o caso em testemunho sobre os Mais Médicos, durante a visita de Padilha: “O Ministério da Saúde nos perguntou de quantos médicos nós precisávamos. O departamento de saúde solicitou cinco médicos, e fomos contemplados com cinco médicos. Um deles trabalha num distrito 70 quilômetros distante do nosso município, onde a gente nunca teve um médico antes. Aquela comunidade está muito feliz”.
Na também litorânea Itanhaém, um dos três médicos cubanos em atividade no município provocou reação empolgada de uma senhora que o reconheceu junto a Padilha. “O Misael!”, ela exclamou, feliz. A relação de afeto entre cidadãos paulistas e médicos cubanos, sul-americanos, espanhóis, portugueses etc. é constante, por onde quer que passemos.
Os métodos adotados pelos profissionais cubanos para estar em maior contato com a população provocaram surpresa e aprovação no prefeito André Bozola (PTB), de Socorro, na divisa com Minas Gerais: “Nós tivemos a felicidade de ser contemplados com cinco médicos, todos cubanos. Acomodamos, proporcionamos moradia e transporte com motorista para eles. Quando foi o primeiro dia de trabalho do doutor Mario, ele dispensou o motorista e preferiu se locomover de bicicleta. Foi um exemplo, até para nossos médicos, para a cidade, para a administração, essa atitude do doutor Mario”.
O prefeito Celso Itaroti (PTB), de Vargem Grande do Sul, no nordeste paulista, falou dos problemas da saúde no município e de transformações trazidas pelo programa de Dilma e Padilha: “Quando cheguei à prefeitura, os postos de saúde tinham o chamado pacotinho de 15. O médico só saía para atender quando chegassem 15 pacientes. Demiti três, não vamos ficar pagando médico para ficar dormindo enquanto tem paciente sofrendo na sala de espera. Os médicos do Mais Médicos são diferentes, examinam, põem a mão”.
Num encontro no Vale do Ribeira, no sul do estado, a prefeita Rejane Silva (PP) anunciou a presença do médico cubano Francisco Piña Rios. “É o melhor médico da cidade!”, alguém gritou no auditório. Francisco foi compor a mesa, vestido de jaleco branco e empunhando duas bandeirinhas unidas pela haste, uma do Brasil e outra de Cuba.
“Estou muito feliz de trabalhar aqui, de continuar a batalha de levar saúde à população, melhorar indicadores de mortalidade infantil, de mortalidade materna”, disse o médico Francisco em entrevista. “Os moradores gostam muito de ser tratados com carinho, com amor. Nosso objetivo é tratar bem as pessoas, esse é um medicamento que pode curar.”
A prefeita Juliana Nagano (PR), de Pirajuí, no centro-oeste paulista, falou de Reinaldo, Oscar, Rolando e Ramon, os quatro cubanos que atuam na cidade. “No primeiro momento em que chegaram ao centro de saúde, falaram: ‘Eu não preciso desta mesa’. Falaram que podia ter a mesa ali, mas a cadeira tinha que ser ao lado da cadeira deles, porque queriam tocar no paciente, examinar. O senhor me desculpe, doutor Padilha, o senhor também é médico, mas tem médico no Brasil que não olha nem na cara do paciente. Temos aqui um paciente de 306 quilos, os cubanos foram atender ele em casa, e foram os quatro juntos.”
A comparação com os métodos vigentes na medicina brasileira se fez presente no depoimento de Ronei Costa  Martins (PT), presidente da Câmara de Vereadores de Limeira, no centro-leste do estado:  “Um médico daqui subiu na tribuna da Câmara para criticar o Mais Médicos. Ele disse: ‘Como vou para a Amazônia se lá não tem academia para fazer exercício, não tem escola de inglês para os meus filhos?’. Aqui em Limeira nós fazemos concurso público e não aparece nenhum médico. Eles se formam em universidade pública, financiada por nós, e depois não querem nem aparecer aqui”.
No Quilombo da Caçandoca, em Ubatuba, encontramos a médica cubana Rosa Rosado (foto a esquerda), que atende à comunidade de remanescentes quilombolas. Ela relatou a alegria de estar ali e afirmou que vê mais semelhanças que diferenças entre a cidade litorânea e Cuba, inclusive quanto às altas temperaturas. Cerca de 75% dos profissionais contratados pelo programa atuam em regiões de vulnerabilidade social, como quilombos, comunidades indígenas, periferias de grandes cidades, sertão nordestino etc.
Em cada cidade onde dialogou com agentes envolvidos na revolução pacífica do Mais Médicos, Padilha sublinhou o forte cunho social que o governo imprimiu ao programa. “É muito fácil, para quem tem acesso a um médico num estalar de dedos, ficar criticando e fazendo ação contra o Mais Médicos. Só vocês sabem a importância de um programa como o Mais Médicos”, afirmou, em conversa com militantes petistas do Vale do Ribeira. “É uma solução inovadora. Somos da turma dos Mais Médicos, não da turma do mais do mesmo”, completou.
Falando com assentados e pequenos agricultores familiares em Teodoro Sampaio, no Pontal do Paranapanema, no sul do estado, Padilha privilegiou componentes sociais e raciais da saúde pública brasileira: “Para fazer um programa como esse tivemos que ter muita coragem, para enfrentar resistências, preconceitos e tabus.Tivemos que fazer o que ninguém tinha feito no nosso país, mudar as regras no Congresso”.
Trazer médicos estrangeiros a localidades onde médicos brasileiros não aceitavam ir não foi o único nem o maior enfrentamento de sua gestão, disse. “O maior enfrentamento é que a lei do Mais Médicos autoriza a abertura de mais faculdades de medicina no nosso país. Dos cem alunos da minha turma de medicina na Unicamp, só dois eram negros. Menos de 20 tinham feito escola pública, a maior parte vinha de escola particular.”
Discursando para uma plateia jovem multirracial no 17º Congresso da União da Juventude Socialista (foto à direita), em Jundiaí, Padilha retomou o tema da abertura de vagas de medicina no país:  “Me deixava agoniado ver pessoas se formando na escola pública, como eu me formei, aprendendo nos hospitais da escola pública com as pessoas que procuram o SUS, fazendo cirurgias e partos em pessoas pobres, e depois de formadas só querer atender os ricos”.
No dialogando com potenciais futuros profissionais da área, Padilha indicou diretrizes sobre os próximos passos e anos do Mais Médicos: “A maior briga foi para abrir mais faculdades de medicina no Brasil. Vamos abrir faculdades federais de medicina em Guarulhos, São Bernardo do Campo, Araçatuba, São José dos Campos, nas zonas sul e leste da capital. Acredito que nós só vamos ter médicos nas periferias das nossas cidades quando o jovem da periferia puder fazer o curso de medicina, ser doutor,  voltar e atender à nossa população de periferia”. 

(Fotos: Emiliano Capozoli)
Fonte:  http://www.padilha13.pt/noticia/mais-medicos

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