terça-feira, 5 de março de 2013

MÊS DA MULHER: OS EVANGÉLICOS E OS NOSSOS DIREITOS

No mês em que se comemora o o Dia Internacional da Mulher, me deparei com o pronunciamento feito em fevereiro pelo Deputado Federal Roberto de Lucena em seu blog que já de início tem uma citação bíblica, criticando o Protocolo Misoprostol no dia 06.02.2013.


O deputado Roberto de Lucena criticou, da Tribuna da Câmara dos Deputados, a publicação da cartilha “Protocolo Misoprostol”, editada pela Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde.  A cartilha dá instruções para o uso do medicamento abortivo misiprostol, mais conhecido pela marca Cytotec, cuja comercialização é proibida no Brasil.
No material apresentado, consta tratar-se de orientação para a utilização de Misoprostol em Obstetrícia, em linguagem técnica, dirigido a profissionais de saúde em serviços especializados, porém a linguagem utilizada no trecho que ensina o método abortivo foge ao padrão técnico comumente usado em documentos médicos, com aparência de dirigir-se a pessoas que já conseguiram ou pretendem conseguir clandestinamente a droga e têm dúvidas de como utilizá-la para realizar o aborto.

Já o Deputado Federal Pastor Marco Feliciano diz que inventou a denominação "cartilha da morte" e completa que  cartilha leva o título “Protocolo Misoprostol” e foi elaborada pelo Grupo de Estudos sobre Aborto da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Entidade que afirma não ser uma organização não-governamental e por isso não possuí verbas próprias mas conta com o apoio do Ministério da Saúde. Ou seja, são patrocinados por verbas públicas".

Pior foi ele dizer que  o Ministério da Saúde já havia anunciado em junho de 2012, quando o Secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde afirmou através de entrevista que o Ministério estaria preparando uma cartilha para orientar mulheres sobre o uso de medicamentos abortivos. Nessa parte ele falta com a verdade pois o protocolo foi distribuído em fevereiro de 2012.

MENTIRA, o Protocolo Misoprostol foi distribuído pelo Ministério da Saúde indicando para a os profissionais de saúde como e em que casos usar o medicamento, que é  uso exclusivo em ambiente hospitalar para indução de partos e nos casos de abortos legais, aqueles autorizados pela justiça. 
Usando de chavões que temos visto muito por esses parlamentares que se denominam evangélicos, do tipo  “A cartilha contradiz as nossas leis, contradiz a proteção à vida, a defesa dos direitos humanos. A proteção e o respeito ao direito moral à vida do embrião ou feto é dever do Estado, não podendo este de forma alguma incentivar ou orientar o aborto” ,  esses parlamentares fecham os olhos para o que acontece no Brasil há anos.
Mesmo que fosse verdade que o MS tivesse feito uma cartilha para o público em geral, o que não é o caso, estaríamos então num debate filosófico-teológico-político.
Estamos em 2013 e ainda hoje mulheres mortas por abortos mal-sucedidos em clínicas clandestinas e esses religiosos com status de parlamentares querem impor (porque a eles não interessa se as pessoas não compartilham as mesmas ideias deles) os seus ponto de vista a todos os brasileiros. Isso é um afronta às nossas garantias constitucionais, eles não podem usar da tribuna do parlamento para criticar esse ou aquele protocolo em virtude de suas convicções religiosas. 
Eu iria falar somente da cartilha do Cytotec, mas, não posso me calar sobre o problema que é de saúde pública e que muitos se negam a pensar, quanto mais falar ou discutir sobre o assunto, o aborto clandestino, isso é caso de saúde pública e mata muitas mulheres e adolescentes no Brasil.
Imaginem então se o MS resolvesse dar um basta nesse alto índice de mortalidade pós ou durante aborto ilegal feitos por pessoas despreparadas e solenemente ignorada por esses parlamentares. Eles iriam fazer um estardalhaço tão grande que o mundo cairia sobre os ombros do Ministro Alexandre Padilha. 
O que esses parlamentares criticam sem nenhum embasamento, é reflexo dos antolhos que colocaram em si mesmo para que só possam enxergar o que interessa ao seu rebanho.
A mulher tem o direito de dispor de seu corpo, aceitem ou não os religiosos e para tanto necessitam de que os órgãos públicos estejam preparados para isso.
Ao combater o uso do Cytotec para indução do parto, esses parlamentares não pensam nas mulheres, como aconteceu no meu caso, fiquei 14 horas em trabalho de parto, para que no final tivesse que me submeter a uma cesariana que eu não queria, porque minha filha, hoje com 27 anos já estava em estado de sofrimento. E assim há milhares de mulheres que necessitam de indutores de parto. Mas, como eles não são paridores, não sabem o que é isso.
 E no caso de gravidez por estupro, se fosse com a filha deles, agiriam da mesma forma, não recorreriam aos órgãos de saúde para interromper a gravidez, usando o Protocolo Misoprostol (Cytotec)?
E se eu quiser hoje fazer um aborto por não querer mais filhos, sou impedida por esses fundamentalistas religiosos, porque eles sim, podem dispor do meu corpo, dizendo o que posso ou não posso fazer, está tudo errado, quem dispõe do meu corpo sou eu!
Mulheres, no nosso mês, é necessário que se dê um basta na hipocrisia fundamentalista religiosa. Nosso corpo nos pertence e dele temos o direito de dispor como acharmos melhor!

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