sábado, 1 de junho de 2013

PADILHA DEFENDE A CRIAÇÃO DE VAGAS PARA MÉDICOS ESTRANGEIROS E GARANTE QUE HAVERÁ SELEÇÃO CRITERIOSA


A saúde do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, vai bem, mas sua situação política inspira cuidados e embala especulações. Celebrado nas redes sociais, onde despacha demandas a secretários e fala de dieta e exercícios, no mundo real o petista tem sido criticado pela ideia de trazer médicos estrangeiros para atuarem nos rincões do País. Não bastasse isso, o risco de uma nova epidemia da gripe H1N1 pode arranhar sua imagem no momento em que se cogita fortemente no meio político sua candidatura ao governo de São Paulo em 2014 – proposta defendida nos bastidores pelo ex-presidente Lula.
Em entrevista exclusiva à ISTOÉ, o infectologista que por anos liderou um núcleo de pesquisa da USP no interior do Pará defende a criação de vagas para médicos espanhóis, portugueses e cubanos e garante que haverá uma “seleção criteriosa” e incentivos justos para eles virem ao Brasil. “Queremos oferecer salários compatíveis. Na Espanha, um médico da atenção básica recebe três mil euros”, afirma. Sobre a pré-candidatura, Padilha mantém cautela. Diz que nunca conversou sobre eleições com Lula ou com a presidenta Dilma Rousseff e joga a bola para outro nome cotado para a disputa: “O candidato natural do PT ao governo de São Paulo é o ministro Aloizio Mercadante.”
Istoé – Há muita resistência à vinda de médicos estrangeiros, ainda que seja para atuarem no interior do País. Por que insistir nisso?
Alexandre Padilha – Porque não há saúde sem médicos. Constatamos uma carência de atendimento não só no interior ou nas regiões Norte e Nordeste, mas também nas periferias das cidades. Isso desmonta a tese que se consolidou no Brasil de que temos médicos demais. Não é verdade. Nosso país está muito atrás do resto do mundo.
Istoé – Quanto atrás?
Alexandre Padilha – Temos uma média de 1,9 médico por mil habitantes. Essa cifra está abaixo da de toda a América Latina e distante da média de países europeus, como Inglaterra, Espanha ou Portugal, que buscam oferecer um sistema de saúde universal e gratuito. A Argentina tem 3,2 profissionais de saúde por mil habitantes, enquanto Espanha e Portugal têm quase quatro. A Inglaterra, cujo sistema de saúde é uma referência mundial, tem média de 2,7 médicos por mil habitantes e quer chegar a 3,2 em 2020.
Istoé – Mas não há outra forma de atender a essa demanda?
Alexandre Padilha – Claro que sim, mas são iniciativas complementares. Um país do tamanho do Brasil não pode ter uma estratégia apenas. Desde a minha posse em 2011, eu coloquei esse problema. Fizemos um seminário internacional, temos debatido o tema com a comunidade acadêmica, as entidades médicas, os governos estaduais. Concluímos que é preciso haver uma mudança cultural da “Escola Médica” e estamos estimulando essa mudança.
Istoé – De que maneira?
Alexandre Padilha – Quem tem acesso a uma faculdade de medicina nos grandes centros urbanos não tem estímulo para ir para o interior ou para a periferia. Então o primeiro passo é levarmos a faculdade para a periferia. Assim, o aluno que estuda ali, que conhece aquela realidade mais do que ninguém, tem mais chances de se fixar naquela região e aplica ali seus conhecimentos. Em 2011, fizemos uma parceria com o Ministério da Educação e a Faculdade Santa Marcelina para abrir um curso de medicina na zona leste de São Paulo. Disponibilizamos para esse aluno o crédito do Fies, e se ele, uma vez formado, for trabalhar para o SUS nas áreas em que há demanda, poderá abater sua dívida e ainda receber um bom salário. Em geral, ele parcela o Fies em dez anos. Se trabalhar dez anos para o SUS, desconta a dívida e não paga nada. Se fizer a especialização em áreas consideradas de interesse do governo, como pediatria, ele ganha a bolsa de formação da residência e também não paga nada do Fies.
Istoé – Isso está sendo feito em outros lugares?
Alexandre Padilha – Sim, já abrimos mais de duas mil vagas de medicina com foco no interior e nas regiões metropolitanas. Podemos chegar a oito mil. Criamos o Provab, que tem como principal objetivo oferecer ao médico recém-formado a chance de passar um ano numa unidade de saúde da periferia ou do interior, com salário de R$ 8 mil e acompanhamento da universidade. Se o seu desempenho for aprovado e ele for bem avaliado pela comunidade, ganha 10% de pontuação na prova de residência. No primeiro ano, apenas 380 quiseram participar. Este ano, já foram quatro mil. É o maior programa desse tipo na história em nosso país. Além de preenchermos esse vazio, estamos formando médicos melhores, mais humanos e com mais experiência da realidade brasileira.
Istoé – De quanto é o déficit de médicos nessas regiões?
Alexandre Padilha – Os prefeitos nos entregaram um estudo que apontou déficit de 13 mil profissionais. Aliás, quem começou com essa história de médicos estrangeiros foram os prefeitos. Logo depois da posse, eles pediram à presidenta Dilma que considerasse o problema. Veja, já suprimos quatro mil vagas, mas restam nove mil. Também estamos estimulando a criação de carreiras regionais nos Estados, de forma que o médico que entra na atenção básica vá primeiro para um município distante, o que lhe rende pontuação para depois ir para um posto melhor. Hoje há mais de 300 municípios que não têm sequer um médico, mais de mil municípios que possuem menos de um médico por mil habitantes. Os prefeitos fazem leilão de médicos.
Istoé – Mas todas essas iniciativas demandam tempo. A formação de um médico leva seis, sete anos…
Alexandre Padilha – Exatamente por isso precisamos de uma solução de emergência. Vislumbramos uma oportunidade muito clara e concreta, por causa da crise econômica na Europa. O desemprego na Europa pode ser um estímulo para os médicos virem para cá. Além disso, queremos pagar salários compatíveis aos que eles ganham lá. Na Espanha, um médico de atenção básica ganha três mil euros. Além do salário, o período de trabalho aqui poderia significar formas de promoção na carreira dele em seu país. A ideia é que venham para atuar por um período específico e apenas em regiões e áreas predefinidas.
Istoé – Já há algum acordo? Com Cuba, por exemplo?
Alexandre Padilha – Nossa prioridade sempre foi Espanha e Portugal. Mas não há nenhum preconceito contra os cubanos. Não pode haver ideologização desse debate. Queremos médicos preparados e haverá uma avaliação. É preciso garantir que tenham boa formação e habilidade no português.
Istoé – Estamos vivendo um novo surto da gripe H1N1, a gripe suína, com foco principal em São Paulo, onde já foram confirmadas seis mortes. Com o inverno, a situação deve piorar. O que o sr. pretende fazer?
Alexandre Padilha – O ministério está vigilante com a gripe H1N1, mas preocupado com o inverno que começa. Conseguimos recuperar a meta nacional de vacinação. O Brasil é um dos poucos países do mundo que ofertam a vacina para todos os grupos prioritários recomendados pela OMS, e incorporamos dois novos grupos. Agora estamos reforçando o uso precoce do Tamiflu. Distribuímos em todo o País.
Istoé – Mas muita gente tem reclamado por não conseguir encontrar o medicamento.
Alexandre Padilha – Em São Paulo já há mais de 200 pontos de distribuição. Estamos com um estoque nacional suficiente para todo o País e temos reforçado com Estados e municípios para que o Tamiflu esteja em todas as prateleiras. Além disso, há um esforço para mudar a cultura que havia de não prescrição do Tamiflu, porque se pensava que ele poderia gerar resistência. A política agora é reforçar o uso precoce. Suspeitamos que um dos fatores para esses óbitos em São Paulo foi o uso tardio do Tamiflu, nas primeiras 48 horas. Tem que ser utilizado independentemente da confirmação laboratorial ou do surgimento de sintomas mais graves.
Istoé – O sr. acha que uma epidemia poderia contaminar sua candidatura para o governo do Estado em 2014?
Alexandre Padilha – Esse debate não existe. Estou no Ministério da Saúde, muito honrado com a missão, e só penso exclusivamente em melhorar a saúde da população. A preocupação que temos este ano é a mesma dos anos anteriores. Há a percepção de uma migração dos casos, por isso a forte parceria com o governo do Estado. Há uma parceria forte com o secretário de Saúde de São Paulo. A política, muito menos o debate eleitoral, não entra na parceria que estabelecemos com o governador Geraldo Alckmin. Como também não entra entre o governo e a prefeitura paulista.
Istoé – Comenta-se que seu nome é o preferido do ex-presidente Lula.
Alexandre Padilha – O ex-presidente Lula nunca tratou de candidatura ao governo de São Paulo comigo. A presidenta Dilma só trata comigo de temas da saúde, me cobra o tempo todo. Isso faz com que o meu foco esteja no Ministério da Saúde.
Istoé – Nas redes sociais, já há um movimento em apoio a sua candidatura.
Alexandre Padilha – Neste momento só penso no Ministério da Saúde. Os perfis, os comentários, as pessoas falam. É lógico que a gente ouve isso, mas entra por um ouvido e sai pelo outro.
Istoé - Almeja algum cargo mais político num segundo mandato da presidenta Dilma?
Alexandre Padilha – Quando assumi a Secretaria de Relações Institucionais, me falavam que eu era muito técnico para assumir um cargo político. Quando vim para o Ministério da Saúde, disseram que eu era muito político para assumir um cargo técnico. Quero dizer que estou muito animado aqui, e meu compromisso é ir até o momento que ela achar que devo ficar aqui.
Istoé - Como ministro o sr. tem mantido contato frequente com Aloizio Mercadante. Conversaram sobre 2014?
Alexandre Padilha – Nada sobre eleição. Não existe a possibilidade de sermos rivais em São Paulo. O Aloizio é o candidato natural ao governo de São Paulo. Sempre achei isso e continuo achando, que ele é o candidato natural do PT ao governo do Estado de São Paulo.

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