domingo, 19 de maio de 2013

'NÃO DÁ MAIS PARA A VINDA DE MÉDICOS ESTRANGEIROS SER UM TABU NO PAÍS", AFIRMA PADILHA À FORBES BRASIL


Criticado pelo Conselho Federal de Medicina e pelo governador Geraldo Alckmin, ministro diz que o país não pode esperar mais oito anos pela formação de novos médicos


A polêmica em torno da importação de médicos estrangeiros está longe de terminar. O Ministério da Saúde vai manter os estudos e também as conversas com pares internacionais para acelerar sua política de atração de especialistas estrangeiros para a saúde pública brasileira. "Temos apenas 1,9 médico para 1.000 habitantes enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a proporção de 2,7 médicos. Não dá mais para esperar um ciclo de seis a oito anos para a formação de novos médicos", afirmou Alexandre Padilha, ministro da saúde, à FORBES Brasil, durante o 2º Fórum da Saúde e Bem-Estar, promovido hoje em Campinas (SP). 

Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Ministro, como fica a questão da importação de médicos no momento em que o Conselho Federal de Medicina fala em entrar com uma representação para barrar este projeto na Procuradoria Geral da República?
Não pode ser um tabu no Brasil ter uma política para atrair médicos estrangeiros porque não é um tabu em nenhum país do mundo. Países como a Inglaterra, Canadá e Austrália têm políticas específicas em relação a isso. Na Inglaterra, 37% médicos sao importados. No Canadá são 22%, nos Estados Unidos são 25%, na Austrália 17% e no Brasil 1,7%. Não pode ser um tabu porque faltam médicos no Brasil. No Brasil, a 1,9 médico por mil habitantes enquanto na Argentina tem 3,2 médicos por mil habitantes em Portugal. O ministério estuda esses países e políticas para atrair médicos para àreas restritas, exclusivos para atender a carência de profissionais em municípios de interior e na periferia das grandes cidades.

Quando efetivamente terá início a importação de médicos estrangeiros?
O tempo necessário para desenharmos um programa onde a gente garanta segurança jurídica, qualidade dos profisisonais e mais médicos para a população.

Mas há uma previsão?
Essa semana mandamos um secretário do Ministério da Saúde para a Espanha. Hoje a Espanha tem um volume grande de médicos desempregados em função da crise. Essa semana também teremos reuniões durante a assembléia geral da OMS (Organização Mundial de Saúde) e com outros ministorso de saúde do Canadá, da Austrália, da Inglaterra para detalhar seus programas.

Como andam as conversas com o governo cubano?
O Ministério da Saúde não tem preferência, mas também não tem preconceito em relação a qualquer país. Se for um médico bem formado, com qualidade, e que possa contribuir para a população nós vamos busca-los. O que importa para nós é que seja bem formado e ofereça um serviço de qualidade. O debate tem que ser feito sem ter qualquer tipo de tabu. Não é um tabu nos grandes países do mundo. Tem que ser um debate com respeito, sem agressividade, sem arrogância. O Brasil tem poucos médicos por mil habitantes comparado a países como Espanha, Portugal, Inglaterra e também ao México. Não se faz saúde sem médico. O Brasil precisa aumentar o número de profissionais.

Mas o que está sendo feito de forma paralela à importação de médicos?
A nossa política é valorizar o médico brasileiro e o jovem que quer fazer medicina. Estamos ampliando as faculdades de medicina e vagas para formação de especialistas. Nós criamos o Provab, programa para médicos recém-formados onde o Ministério da Saúde dá R$ 8 mil por mês para atuarem na periferia e cidades distantes. É um programa de interiorização no qual 4.631 médicos do Brasil já abraçaram esta causa. Mas isso tudo não resolve a falta de médicos no Brasil. Não posso esperar por um período de formação médica de seis a oito anos. A população precisa de médicos hoje. Nos últimos 10 anos foram criados 143 mil postos de trabalho (de primeiro emprego) ante os 93 mil médicos formados. Uma defasagem de 50 mil postos. Nos próximos dois anos os investimentos do Ministério da Saúde gerarão mais de 26 mil postos. 

O governador de São Paulo Geraldo Alckmin se mostrou contrário à importação de médicos. O senhor chegou a conversar com ele?
Eu não debati este assunto com ele. Faltam médicos no Brasil e esta distribuição nos estados é desigual. No estado de São Paulo apenas cinco regiões de saúde do estado têm a média de médicos maior ou igual à média nacional. Todas as outras regiões têm menos médicos que a médica de 1,9 médico por 1000 habitantes. Tirando cinco regiões, todas estão abaixo. Muitos dizem estar preocupados com a vinda de médicos estrangeiros. Eu, particularmente, estou preocupado em levar médico para a população, sobretudo a mais carente. 

Ministro, se há um déficit tão grande de médicos no Brasil porque a classe médica se mostra tão contrária a isso?
Eu respeito a opinião dos meus colegas médicos e os escuto. Só acho que este debate tem que ser feito de forma educada, sem agressividade, sem arrogância. Um debate aberto. É o que tenho feito desde o começo com as entidades médicas e também com o conjunto da sociedade brasileira. Por muitos anos tinha um tabu no Brasil de que não faltavam médicos. O problema era a distribuição. Hoje, a falta de médicos é clara. 

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